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sexta-feira, maio 10, 2013


A jogada mais ousada de Ronaldo, o dono da bola no país.



EsportesPor: Amanda da Silva Marques


Como o ex-craque se tornou a figura mais influente do futebol brasileiro - e como ele encara o risco de arranhar sua imagem na Copa do Mundo de 2014


     O apelido que acompanhou o maior artilheiro da história das Copas do Mundo em sua trajetória como jogador é perfeito para descrever Ronaldo Luís Nazário de Lima, de 36 anos, em sua nova carreira. Afinal, o que o ex-craque conseguiu realizar em apenas dois anos, desde que pendurou as chuteiras, é simplesmente fenomenal. São poucos os ex-atletas de primeiro escalão que conseguem repetir em sua nova profissão o sucesso conquistado nos campos, pistas ou quadras. Mais raros ainda são os que superam rapidamente o trauma da aposentadoria precoce, e encontram um novo rumo sem muita hesitação. Ronaldo foi além: hoje, é a figura mais influente do futebol brasileiro, o homem-forte do Mundial de 2014 e um provável candidato à presidência da CBF ou do Comitê Organizador Local (COL) da Copa.

     Graças ao seu carisma, popularidade e uma surpreendente habilidade para farejar bons negócios, Ronaldo arrebanhou clientes de peso, ampliou sua rede de contatos e acumulou poder. É sócio de uma das principais agências de marketing esportivo do país, a 9ine. Com bom trânsito entre políticos das mais variadas vertentes, é um dos garotos-propaganda das ações do governo federal para o Mundial. No comitê da Copa, é o rosto mais conhecido e o interlocutor preferido de Joseph Blatter e Jérôme Valcke. Por fim, desde a semana passada, encabeça o time de comentaristas da TV Globo, parceira da FIFA na promoção do evento - foi escalado para estrelar as transmissões da Copa das Confederações deste ano e, claro, do Mundial do ano que vem. Desde que acertou seu contrato com a emissora, Ronaldo vem sendo criticado por outros comentaristas - agora seus colegas de profissão - em função da tentativa de conciliar atividades aparentemente conflitantes (e da resistência em abrir mão de qualquer uma delas). Ele usará o microfone mais poderoso do país para criticar seus próprios parceiros comerciais, como Neymar? Caso o Mundial seja um fiasco, ele será capaz de afirmar, ao vivo na tela da Globo, que o comitê organizador que ele próprio integra fracassou?

      Acredita-se que Ronaldo seria o nome preferido do governo e da FIFA para assumir a presidência do comitê organizador na esteira de uma eventual queda de Marin. É como se, caso ainda fosse atleta, o Fenômeno pudesse jogar como atacante, acumular o cargo de técnico, treinar para ser goleiro e ainda dirigir o ônibus da equipe. Esse acúmulo de cargos e funções fora dos gramados, com amplo terreno para prováveis choques de interesses e campo fértil para insinuações e suspeitas, é o grande desafio do ex-craque - e certamente a jogada mais ousada e arriscada de sua vida. Ao assumir o papel de "dono da Copa" na reta final dos preparativos para a competição - um evento que, como se sabe, está longe de ser um modelo de organização até agora - o artilheiro coloca em risco uma reputação construída ao longo de duas décadas de muito suor e superação dentro de campo.