EsportesPor: Amanda da Silva Marques
Como o
ex-craque se tornou a figura mais influente do futebol brasileiro - e como ele
encara o risco de arranhar sua imagem na Copa do Mundo de 2014
O apelido que acompanhou o
maior artilheiro da história das Copas do Mundo em sua trajetória como jogador
é perfeito para descrever Ronaldo Luís Nazário de Lima, de 36 anos, em sua nova
carreira. Afinal, o que o ex-craque conseguiu realizar em apenas dois anos,
desde que pendurou as chuteiras, é simplesmente fenomenal. São poucos os
ex-atletas de primeiro escalão que conseguem repetir em sua nova profissão o
sucesso conquistado nos campos, pistas ou quadras. Mais raros ainda são os que
superam rapidamente o trauma da aposentadoria precoce, e encontram um novo rumo
sem muita hesitação. Ronaldo foi além: hoje, é a figura mais influente do
futebol brasileiro, o homem-forte do Mundial de 2014 e um provável candidato à
presidência da CBF ou do Comitê Organizador Local (COL) da Copa.
Graças ao seu carisma, popularidade
e uma surpreendente habilidade para farejar bons negócios, Ronaldo arrebanhou
clientes de peso, ampliou sua rede de contatos e acumulou poder. É sócio de uma
das principais agências de marketing esportivo do país, a 9ine. Com bom
trânsito entre políticos das mais variadas vertentes, é um dos
garotos-propaganda das ações do governo federal para o Mundial. No comitê da
Copa, é o rosto mais conhecido e o interlocutor preferido de Joseph Blatter e
Jérôme Valcke. Por fim, desde a semana passada, encabeça o time de
comentaristas da TV Globo, parceira da FIFA na promoção do evento - foi
escalado para estrelar as transmissões da Copa das Confederações deste ano e,
claro, do Mundial do ano que vem. Desde que acertou seu contrato com a
emissora, Ronaldo vem sendo criticado por outros comentaristas - agora seus
colegas de profissão - em função da tentativa de conciliar atividades
aparentemente conflitantes (e da resistência em abrir mão de qualquer uma
delas). Ele usará o microfone mais poderoso do país para criticar seus próprios
parceiros comerciais, como Neymar? Caso o Mundial seja um fiasco, ele será
capaz de afirmar, ao vivo na tela da Globo, que o comitê organizador que ele
próprio integra fracassou?
Acredita-se que Ronaldo seria o
nome preferido do governo e da FIFA para assumir a presidência do comitê
organizador na esteira de uma eventual queda de Marin. É como se, caso ainda
fosse atleta, o Fenômeno pudesse jogar como atacante, acumular o cargo de
técnico, treinar para ser goleiro e ainda dirigir o ônibus da equipe. Esse
acúmulo de cargos e funções fora dos gramados, com amplo terreno para prováveis
choques de interesses e campo fértil para insinuações e suspeitas, é o grande
desafio do ex-craque - e certamente a jogada mais ousada e arriscada de sua
vida. Ao assumir o papel de "dono da Copa" na reta final dos
preparativos para a competição - um evento que, como se sabe, está longe de ser
um modelo de organização até agora - o artilheiro coloca em risco uma reputação
construída ao longo de duas décadas de muito suor e superação dentro de campo.